Elias Ribeiro entrevista Gabriel Rocha

por Gabriel Rocha

A entrevista reproduzida abaixo foi publicada originalmente em maio de 2005, no site www.alceman.rg3.net. Elias Ribeiro é o criador e webdesign do Alceman, e tomou a iniciativa pela entrevista. Fica aqui um agradecimento ao Elias Ribeiro pelo canal aberto e a oportunidade de expressão.

1) Quando foi que surgiu o Lagarto Negro?

O Lagarto Negro surgiu em 1998, publicado no número 3 do fanzine Impacto, e marca o retorno do zine que estava parado desde 1995.

2) Como foi que surgiu a idéia do Lagarto Negro?

O Lagarto Negro surgiu de várias formas. A criação do personagem foi conseqüência direta do meu trabalho inicial com o Metatron, na primeira fase do fanzine Impacto. O Metatron foi muito criticado pelo simples fato de ter super-poderes. Diziam assim: "Fica ridículo um super-herói brasileiro com super-poderes. Se a história se passasse nos Estados Unidos, aí tudo bem..." - O Lagarto Negro tem um visual muito próximo ao Metatron, mas não tem os poderes, tomei essa atitude para agradar aos leitores. Mas a idéia surgiu mesmo de um bate-papo informal com alguns amigos e conhecidos, durante um evento de quadrinhos no museu do telefone. Foi um bate-papo produtivo e surgiram três projetos diferentes ali. Um deles foi o embrião para o Lagarto Negro.

O primeiro nome que escolhi foi o Anjo Vingador, depois passou para o Anjo Negro que logo se passou a ser o Lagarto Negro, e assim ficou.

Surgiu então uma revista chamada 100% BR (se não me engano), que publicava quadrinhos nacionais. Fiz uma HQ de 4 páginas com o Lagarto Negro e enviei para a 100% BR. Essa foi a primeira HQ do personagem.

Como ele não foi publicado e a revista acabou, eu refiz as 4 páginas e publiquei no número 3 do fanzine Impacto, inaugurado a segunda fase do fanzine, juntamente com um material engavetado, ainda da primeira fase.

3) Você se inspirou em um ou mais personagens para criar o Lagarto Negro?

Criei o Lagarto Negro para ser um personagem do gênero dos super-heróis, por isso ele tem toda a caracterização que outros personagens do mesmo gênero também possuem. Posso falar que um estímulo muito grande foi ver o Vingador Mascarado, do Seabra, nas páginas do Almanaque Phenix Superação, da editora Phenix, por volta de 1990. Nessa época eu não conhecia fanzines, estava descobrindo os quadrinhos (comecei a ler quadrinhos em 1989) e pensei mais ou menos isso: "Cara, que barato! Um super-herói brasileiro tão bom quanto os importados!!! É possível fazer isso aqui no Brasil também!"

Infelizmente o Almanaque Phenix Superação desapareceu das bancas, mas o Metatron nasceu desse primeiro contato com o gênero dos super-heróis brasileiros. Mais tarde o Metatron iria servir de base para o Lagarto Negro.

Posso dizer também que tudo o que leio, seja quadrinhos ou não, acaba influenciando de uma forma ou de outra no desenvolvimento do Lagarto Negro.

4) Quais outros personagens você criou?

Já criei vários projetos tanto para super-heróis, quanto para outros gêneros de HQ. A maioria está engavetada. Os que realmente saíram publicados foram:

- O Vingador, criação conjunta minha e de Fred Pires, por volta de 1993, para o extinto jornal de bairro Redator Alternativo.

- O Metatron, criação minha no ano de 1994, para o fanzine Impacto, e depois saiu no extinto jornal de bairro Niterói Cultural.

- Donar o deus do trovão, criação minha no ano de 1996, também para o extinto jornal de bairro Niterói Cultural.

- O Lagarto Negro, criação minha no ano de 1998 para a volta do fanzine Impacto.

Agora estou trabalhando lentamente numa reformulação para o Lagarto Negro. Falta-me tempo. Queria que o meu dia tivesse umas 12 hora a mais que o dia das outras pessoas :) .

5) Onde foi publicada a primeira história do Lagarto Negro?

O Lagarto Negro foi publicado pela primeira vez no número 3 do fanzine Impacto em 1998, e marca o retorno do zine que estava parado desde 1995.

6) Você acha que os quadrinhos independentes têm reconhecimento no Brasil?

Tem muito reconhecimento sim. Vejo publicações como Q.I. do Edgard Guimarães, os quadrinhos do Emir Ribeiro, Os 10 Pãezinhos de Fábio Moon e Gabriel Bá, Victory do Cassaro, todas sempre com reconhecimento inclusive internacional. O reconhecimento existe, é só batalhar que ele vem.

É muito fácil reclamar que este país não oferece isso ou aquilo, o difícil mesmo é não desistir e trabalhar para criar a estrutura que gostaríamos de ter se estivéssemos vivendo em outros lugares do mundo.

Se alguém sente falta de algum reconhecimento, que trabalhe por isso. Acho que só reclamar não adianta.

7) Você destacaria outro personagem independente hoje no Brasil?

Destacar como? Por gosto pessoal? Descobri recentemente a Nova do Emir Ribeiro (que saiu agora em edição de bolso), achei um barato! Sempre curti o Redentor do Marcos Franco. Tem o Crânio, do Francinildo Sena.

Apareceu agora o Cometa do Samicler, que eu ainda não conheço, mas parece interessante...

8) Aonde você busca inspiração para escrever suas histórias?

Um colega da época em que cursei pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ costumava dizer "o trabalho do artista é 20% inspiração e 80% transpiração". A inspiração vem de todos os lugares, tudo o que nossa mente consome, ou é exposta, serve de inspiração para o trabalho. Tenho "transpirado" ultimamente buscando leituras que me ajudem na busca por uma técnica adequada para escrever histórias em quadrinhos. Ainda não posso dizer que estou satisfeito com minha forma de escrever, por isso estou segurando as coisas que escrevo. A hora que tomar coragem volto a expor meus textos!

9) Tem algum tema que você gosta de abordar mais nas suas histórias?

As histórias do Lagarto Negro geralmente são histórias de crimes, temática policial para o gênero dos super-heróis. Tento criar uma ambientação próxima a realidade brasileira.

10) Você cuida de toda a produção do Lagarto e/outros personagens sozinho ou recebe colaboração?

Não sou egoísta!! :) Empresto o Lagarto Negro para outras crianças crescidas como eu brincarem também! Gosto de pensar que o Lagarto Negro tem vida própria. Acho que ele pode existir sem mim. O Lagarto Negro já contou com a colaboração de muitos autores de fanzines:

Antônio Mello - RS;
André Navarro - RJ;
Carlos H. - RJ;
Elenilton Freitas - SP;
Francinildo Sena - RN;
Marcos Franco - BA;
Marcelo Marat - SP;
Márcio Kurty - PA;
Hélcio Rogério - BA;
Sérgio Jr. - SP;
Elenilton Freitas - SP;
Marcelo Marat - SP;
Marcelo Salaza - RJ

Nem todas as HQs estão completas ou foram publicadas, mas sou muito grato a todos pelas colaborações e por acreditarem no personagem.

11) Você destacaria algum talento novo ou subindo no quadrinho nacional?

Novos talentos temos aos milhares. O que não faltam são promessas para o futuro. Acho que o Francinildo está levando adiante seu trabalho, e tem o Emir Ribeiro, que não é um novo talento (já tem muita estrada percorrida) e consegue cada vez mais espaço com a Velta, por isso posso dizer que está subindo. O Samicler está com um trabalho interessante também!

12) Você tem alguma história favorita do Lagarto Negro?

A melhor história sempre é aquela que ainda não escrevi... Gostei muito das HQs "Corrupção infantil" (por Marcos Franco) e "A voz comunitária" (ainda inédita) e "Vítimas do sistema" por Antônio Mello . Gostaria de ver terminadas as HQs "O caso Elisa" por Márcio Kurty e Hélcio Rogério e "Lagarto Negro x Redentor" por Marcos Franco e Márcio Sennes.

13) Dos quadrinhos internacionais qual você daria destaque?

Curto quadrinhos do mundo inteiro, mas devido a minha limitação lingüística, só leio as que saem em português mesmo. Destaco as que ando lendo agora: Lobo Solitário, Danphyr, Vingadores Ultimates (os Supremos, que só li recentemente).

14) Qual sua previsão para os quadrinhos daqui alguns anos?

Bom... não sou mãe Dináh nem nada, meus poderes mutantes ainda não se manifestaram : ) , mas eu aposto em HQs com melhores roteiros e artistas com estilos de trabalho mais pessoal. Acredito no fortalecimento dos antigos ícones da HQ e numa total reformulação de mercado. Os quadrinhos serão cada vez mais variados, focando segmentos específicos de mercado. A sociedade está aprendendo a valorizar este gênero como ferramenta comunicativa.

Veja a entrevista original no link: http://www.alceman.oi.com.br/entrevista/gabriel_rocha/gabriel_entrev.htm

 

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