1- Já é costume sempre começar pedindo ao entrevistado que faça uma breve apresentação sobre si mesmo. Fale um pouco quem é Marcelo Salaza e seu envolvimento com quadrinhos?
Bom, primeiro obrigado por me dar esta oportunidade.
Bem, falar de Marcelo Salaza? Olha, sou um cara tranqüilo,
pai de família e dono de um pequeno gatinho.
Sou torcedor fanático de futebol, mengoooooooooo!!!!!!
E amo o que eu faço: desenhar.
E quanto ao meu envolvimento com quadrinhos? Acho que desde meus
9 anos. Desde o momento que vi os desenhos parados dos vingadores
com estilo Jack kirby.
2- Quando você começou a gostar dos quadrinhos? É uma paixão que nasceu cedo em você?
Ah! Isso ocorreu na mesma época. Comecei a copiar os desenhos
que via na TV preto e branco.
Mas me apaixonei mesmo e decidi que queria desenhar, quando recebi
as revistas da EBAL, o tempo…
Acho que desenhar já nasceu comigo e a paixão se tornou
casamento, pois é o que faço até hoje e o que
me sustenta.
3- Fale um pouco sobre como foi a sua transição de leitor para criador. Como foi o surgimento do impulso criativo em você?
Este impulso criativo surgiu aos meus 11 anos, quando comecei a fazer uma revistinha infantil com a galera de minha rua. Era a Turma do Marcelo.
4- Conte qual foi sua primeira experiência com a produção de fanzines. Foi uma experiência positiva? Como você avalia essa experiência inicial com a produção de fanzines?
Olha só, a primeira vez que fiz um zine, eu nem sabia que
era esse o nome.
Foi uma revistinha em xerox com um amigo de infância que desenhava
também.
Formamos um time, ele fazia seus personagens infantis e eu os meus.
E criamos o nome Turma do Barulho. Conseguimos com escola para bancar
a xerox, fizemos 100 edições da um. E vendemos praticamente
todas.
Saiamos de casa em casa em nossa cidade, e todo mundo comprava,
tínhamos até assinantes, isso foi até a edição
11. Depois nos separamos e cada um viveu seu caminho…
5- Quais gêneros de HQ que já produziu (aventura, ficção, erótico, super-heróis, etc)? E dentre eles existe algum que seja seu preferido no momento de escrever?
Fiz de tudo menos oeste.
Mas o gênero que curto mesmo é herói. Amo desenhar
eles.
Pode ser qualquer um. Quando pego pra desenhar um personagem eu
me dedico tento colocar algo de meu estilo no personagem, tento
chamar ele para mim.
Para ter mais atenção a ele. Acho que é isso.
6- Fora os fanzines editados por você, onde mais saíram seus quadrinhos?
Eu publiquei em alguns zines, eu só não me recordo
quais.
Mas sei que foram alguns.
O Crânio (personagem de Francinildo Sena) eu desenhei muitas
vezes, e o Lagarto Negro eu fiz acho duas HQs dele.
Desenhei no zine do Laerçon, e em outros que num me lembro.
Ah sim, fiz HQs dos filhos do Emir [Ribeiro].
7- Quando você começou a editar o fanzine do Transmutor? Foi seu primeiro fanzine? Quais os objetivos em se editar um fanzine de heróis nacionais?
Fanzines é um meio complicado, é difícil você
agradar a todos, e principalmente com heróis, todos torcem
o nariz com relação a zines de heróis, muitas
comparações e tal.
Mas os objetivos foram cumpridos sim, tive boas aceitações,
parcerias boas, e amizades sinceras, consegui fazer pessoas a gostarem
do personagem.
Até hoje tem gente que me pede a volta dele. Mas está
devagar, tenho de mudar as coisas pra ele se adaptar aos anos novos.
Mas quem sabe ele não pinta por aí?
8- Houve uma mudança de visual para o Transmutor, comente aqui sobre essa decisão.
Sim, como eu disse, ele tem de se adaptar aos tempos novos. E isso
era preciso.
A decisão aconteceu no momento que o amigo kal J. Moon, pois
as mãos nele.
E logo em seguida sua namorada e escritora Aki Van Feu começaram
a escrever um encontro entre ele e pacificadora do amigo Leo Duarte.
Eu falei: O Transmutor esta desaparecido a mais de 10 anos. O que
vamos fazer pra trazer ele? E então, a Aki veio com uma idéia
muito da porra. Maravilhosa!
9- Existe algo especial planejado para um retorno do Transmutor ao meio independente? Tem interesse em transformar seus fanzines em revistas de banca?
Sim, ele esta pra voltar, mas tudo ao seu tempo.
E sim, o objetivo é esse, tenho propostas do exterior de
lançar ele em uma mine-série, e estamos estudando
isso. Procuro um desenhista que seja certo ao que quero.
Mas se não encontrar, será eu mesmo.
10- O Transmutor é sua criação mais difundida. Fale um pouco sobre suas outras criações.
Poxa, eu quase num criei nada além dele.
Tenho só o Binho, umas tirinhas que saiu em zines antigos.
Atualmente tenho algumas parcerias com amigos americanos e criei
o Spykiller, uma revista em andamento com co-criação
minha. E outras em andamentos ainda.
11- Cheguei a desenhar uma HQ do Transmutor. Lembro que o roteiro era bem claro e preciso. Chegou a sair em algum zine?
Sim, eu tenho esta HQ, e ela saiu sim. Eu não te mandei?
(Não mandou não! Hahahaha! Sem problema, nem esquenta!!!)
Porra verei se tenho este material em xerox e te mando. Aqui é
uma bagunça. Tenho de arrumar uma secretária. kkkkkkkk
12- De onde vem sua inspiração para escrever? Você usa alguma técnica especial para elaborar seus roteiros? Alguma influência em especial?
Olha, pra falar a verdade, eu quase não escrevo mais.
Fiquei preguiçoso (acho), agora sou assim: sonho com algo
e escrevo tudo em um folha que vejo na frente, todo o sonho, exatamente
como foi, e então ligo ao Kal, e passo tudo a ele, ou ao
Edvanio Pontes, kkkk.
Assim surgiu o meu projeto pessoal o Alin and Guy, Spy Killer, Animal
Gods.
Essa é a técnica..
13- Já escreveu roteiros para outras mídias além dos quadrinhos? Tem vontade de escrever para alguma mídia em especial (teatro, cinema, TV, literatura, etc.)?
Como eu disse, eu não curto escrever mais, só tenho idéias e passo adiante, não curto fazer nada além de desenhar.
14- Na sua visão, como deve ser a relação ideal de trabalho entre o roteirista e o desenhista, durante a produção de uma HQ?
Total, ser totalmente aberta, ter contato direto com roteirista.
Tento saber tudo que ele pensa e quer na HQ.
Tudo mesmo.
Acho importante o desenhista e escritor serem mais que colaboradores,
devem ser parceiros, trocar idéias, e ser sinceros ao fazer
trazer suas informações ao projeto.
Um escutar o outro. Isso é o importante.
15- Ainda tenho aqui guardado alguns números da HQ Campo de Batalha, onde vários heróis nacionais dos fanzines da época se reúnem em torno de um objetivo em comum. Como é trabalhar com personagens e criações de terceiros? Existe alguma preferência sua em relação ao trabalho com personagens e criações de terceiros? Comente um pouco sobre seu trabalho nesse sentido.
Campo de Batalha. Eu tenho elas aqui em casa. Foi um trabalho maravilhoso.
Ainda só em zines, mas me dediquei na época, como
se fosse pra uma editora grande, sendo profissional e cuidadoso
com todos, recebi todas as informações possíveis
de cada personagem. Trabalhar com todos era uma coisa louca.
Trabalhar com personagens de outros? Era uma loucura, não
sabia se ia agradar a todos, tentei ser fiel aos desenhos dos criadores,
não mudar quase nada neles, li cada zines que tinham eles,
e fui vendo cada personalidades em cada um.
Isso foi complicado, mas adorei e tive boa aceitação
no meio com este trabalho.
Graças ao Francinildo Sena que me deu este presente.
Vlw Sena.
16- Conte como foi sua experiência ao desenhar HQs com o Lagarto Negro? Quais HQs já realizou com ele? Comente um pouco sobre sua visão pessoal para o personagem.
Olha, eu fiz acho que duas HQs, e adorei desenhar ele. Pra ilustrações
que fiz dele. Tenho algumas em meus arquivos.
Gosto do personagem falta mais espaço pra ele.
Seu jeito de policial, durão, sério e ágil
(me lembrou eu), hahahaha.
Eu sempre pensei nele com um policial disfarçado de herói,
pra poder socar e fazer justiça certa contra criminosos,
sem se preocupar com a maldita regra.
Ele é perfeito!
Ainda faremos algo grande com ele Gabriel. Pode acreditar.
17- A opinião dos leitores influência muito nas suas decisões como autor? Como é lidar com a opinião dos leitores?
Sim, cara me influência muito sim.
Pois sou um cara amigo, aberto a todas as opiniões.
Mas sou pé firme.
Me lembro que quando comecei com meu estilo caricato, recebi uns
comentes que isso não vendia, que não conseguiria
nada lá fora.
Fiquei revoltado, mas decidi que era isso que queria, e meses depois
obtive meu primeiro trampo nesta linha que foi: Elite.
Um escritor da Inglaterra me chamou e eu fiz o personagem.
E acabei me envolvendo de tal forma que já não desenhava
pra receber e sim porque amei o personagem e fiz uma amizade com
o James.
Desta parceria surgiu a oportunidade de o meu Transmutor sair em
duas revistas com o Elite, e de quebra eu levei o Topman do Lorde
Lobo.
Fora pra quem não sabe, o Elite estava ser lançado
em desenho animado na Inglaterra, estava eu criando os personagens
pra o desenho animado, todos os personagens, e pra minha surpresa,
quando peguei o script do primeiro desenho, o Transmutor faria parte
deste desenho, a história seria com eles adolescentes, e
o Transmutor em sua forma humana sem fantasia seria mandado a Inglaterra
estudar em sua escola, tipo um intercambio. Muito show!!
Mas por infelicidade do destino, o meu amigo James, faleceu em sua
casa de um enfarte fulminante. Onde esteja amigo, fique na paz.
18- Uma característica marcante no seu trabalho é a mudança do seu traço. Você assume vários estilos em épocas diferentes. Como é a criação de um novo estilo? Quais as decisões e motivações que integram essas mudanças? Existe uma razão especial para essas mudanças?
A cara, sou de experimentar, sou conhecido lá pros gringos
com camaleão.
Mudo sempre, conforme o cliente pede, sou uma puta de luxo, faço
o que me pagam.
Kkkk
Mas, tudo na base de estudo.
Estudo o que o cliente pede em umas três semanas direto e
só depois mando ao cliente o que ele quer e que sempre é
aprovado, graças a Deus.
19- Não é só o seu traço que é versátil, já vi alguns dos seus trabalhos com o 3D! Fale um pouco sobre a produção de games. Quais games andou produzindo?
Hiiiiiiiii! Fiz isso a tempo. Estou parado com isso, fiz uns fundos
pra games sim.
Mas num tenho nada disso mais, e nem sei se foi adiante, era sempre
algo de amizade mesmo. Não sei se foi adiante.
Pois tive de me dedicar aos quadrinhos. O 3D era diversão.
20- Além dos games, sei que há uma produção sua de quadrinhos em 3D. Essas HQs foram publicados em algum lugar? Fale um pouco sobre o uso de ferramenta 3D para fazer quadrinhos!
Ah sim. Isso foi sim. Foi algo só pra pornô.
Heróis 3Ds femininos.
Adorava isso. É a coisa mais rápida de fazer e num
precisa desenhar toda hora.
Kkk.
Ganhei uma graninha com isso sim.
Acho que o 3D bem explorado, pode ser uma ferramenta sim de grande
importância nos quadrinhos.
Vi uma HQ do Aranha na revista da Panini a muito tempo, totalmente
em 3D.
Era show.
Vale a pena investir nisso.
Pode crer.
21- Você já chegou a ingressar no mercado profissional aqui no Brasil?
De quadrinhos? Sim, fiz hentais pra Xanadu, pela equipe olha Frente.
Onde consegui meu contrato assinado e tudo, chique eu.
Mas foi só isso mesmo no Brasil.
22- Como se deu o seu ingresso no mercado profissional nos EUA?
Foi em 2002, comecei a fazer algumas artes na linha das páginas
que fiz em Campo de Batalha, e abri um site da Yahoo, e comecei
a enviar artes em e-mails em lan houses da vida.
Então tive um contato em menos de dois dias, um cara me contratou,
fiz 80 páginas de um personagem, e tomei o meu primeiro calote
da vida, o único também.
Desisti? Não fui à luta e aprendi a me cuidar. E tô
aqui até hoje.
23- Como tem sido a receptividade dos leitores em relação
ao seu trabalho com o mercado norte americano?
Boa, se não num tava fazendo mais nada.
Graças a Deus eles curtem o meu estilo.
24- O pencilblueStudio foi uma criação sua? Que tipo de trabalho o Pencilbluestudio oferece a seus clientes?
Profissionalismo. Nós fazemos o melhor para o cliente.
O Pencil é um grupo de artistas ao quais eu vou a luta com
meus contatos buscar trabalhos aos artistas.
E trabalho pago.
Não temos restrições com estilos e nada.
Tem espaço para todos.
Atualmente tenho como editores de avaliações de artes,
os artistas e amigos, Jorge Trindade e Fabio Jansen.
Todos os trabalhos que recebo são avaliados por eles.
Quem quiser mandar suas artes, cores, letras, arte final.
Mande pra este e-mail: pencilbluestudio@gmail.com
25- Vocês agenciam artistas para o mercado profissional
nos EUA? Se sim, como é o processo de agenciamento? O que
vocês procuram num profissional de quadrinhos? Como os interessados
no agenciamento devem proceder?
Bom, respondi logo acima.
Aceitamos qualquer estilo, desde que bem executado.
Boa narrativa, bons fundo, nunca uma cena vazia.
Sempre detalhar suas páginas, boa anatomia.
Tentem desenhar um script de sua cabeça sem roteiro.
Sm colocar falas, só a movimentações.
E depois passe a alguém que num leia comics e peça
que ele fale o que ele vê.
Se for exatamente o que você fez e que queria, está
ok, no caminho certo.
26- Como devem proceder aqueles que estiverem interessados em conhecer melhor o seu trabalho? Onde podemos encontrar as HQs de sua autoria?
HQs minhas?
Só nos EUA, mesmo.
É difícil.
Mas tentando mesmo.
27- Agradeço pela entrevista, e por emprestar um pouco do seu talento como artista para as HQs com o Lagarto Negro! Quer deixar algum recado especial para os leitores?
Eu que agradeço por esta oportunidade.
Eu adorei fazer o lagarto, e vou fazer ele novamente um dia.
Aos leitores, eu espero que seja de ajuda esta minha entrevista
e que eu tenha feito algo de bom com minhas palavras postadas aqui.
E Gabriel. Boa sorte nesta luta constante que passamos.
Vlw!
Marcelo Salaza
Blog do Marcelo Salaza: http://marcelosalaza.blogspot.com/
Marcelo
Salaza no deviantart.com: http://marcelosalaza.deviantart.com